Autoritarismo e o Medo da Diferença
Conversando com uma amiga, chegamos ao assunto da diferença, não so entre as pessoas, em si, como entre seus gostos, ideias, e partidos. Ela tinha me contado que certa vez, no passado, um dos seus amigos, ao vê-la entre outros, criticou “…Nossa, os teus amigos são completamente diferentes de voce!”, “… claro, por isso são meus amigos, voce acha que vou querer espelho?”, ela respondeu.
Mas a diferença, em geral, é dificilmente aceita. Para alguns, é simplesmente insuportável. Esses são os que vem dar ordens, querendo que os outros façam ou pensem do mesmo jeito que eles. Difícil de conviver, pois só te dão as opções de obedece-los, ou brigar com eles.
Odeio obedecer e odeio brigar, mas se for para optar, brigo.
O problema da diferença, num âmbito maior, aparece na democracia. Cada deve ter o direito de votar em quem quiser, e para que o individuo tenha essa liberdade sem constranger uns e temer a “autoridade” de outros, o voto, em princípio, é secreto. Mas, acreditar nessa liberdade `a custa da discrição de um voto que, ao invés de secreto, ja fora anunciado pra tantos quanto se foi capaz, é hipocrisia . De objetivo, a democracia não tem nada, pois é a maior ocasião para que se receba, e se faça, pressão de todos os lados.
Pra começar, as pessoas vão se revelando através das campanhas. Todo mundo participa como pode das campanhas por quem torcem, e o gritam a plenos pulmões. Brigas ocorrem entre amigos e familiares, cada um se intitulando autoridade última e cada qual achando que o outro lado esta de ma fé, ou tem seus interesses egoístas, o que obviamente também acontece de qualquer lado. As pessoas querem se afirmar autoridades.
Campanhas ja nascem da injustiça, pois elas mais dependem das quantias que vão sustenta-las, do que da eficiência de quem promovem. São também ocasiões pra todo tipo de chantagem, mentira, e suborno. Honesto seria somente o próprio partido, ou candidato, falar ao povo, e ou convence-lo ou não. Sem ter que pagar a media, subornar quem quer que seja, ou fugir de debates. Campanhas torna a diferença de qualidade entre candidatos uma diferença simplesmente monetária.
A inaceitação da diferença dá origem ao autoritarismo . Aqueles que so suportam ver os outros como espelhos de si próprios se sentem agredidos. Não devem ter aquele espaço interior so deles, de onde nasce a convicção, e diante da diferença, ficam sem saber quem eles próprios são. Então reagem com indignação, para se afirmar exageradamente. Seu autoritarismo esconde sua incapacidade de conseguir na verdade se assumir. Ao contrário da liderança, autoritarismo é disfarce de fragilidade.
Outro problema é que mais e mais as pessoas confundem o limite entre diferença e discriminação. Diferenciar é caracterizar, e não discriminar. Confundir as duas coisas é um total golpe de misericórdia na aceitação da diferença.
Pois, se o “politicamente correto” em muita coisa é “correto”, em outras é massificante, quer dizer, torna a caracterização de alguém praticamente impossível, como se todos os humanos tivessem que ser idênticos. No entanto, o reconhecimento de diferenças físicas e intelectuais entre as pessoas, se não for usado em favor da condescendência, deve ser no mínimo enriquecedor. Entretanto, a ficção de igualdade perde de vista parâmetros. Referir-se`a beleza de uma mulher para caracteriza-la, por exemplo, é considerado “sexista”, e no entanto, não só mulheres como homens, se forem sinceros, hão de admitir gostar serem identificados pela beleza, se ela na verdade existir neles.
A beleza, que é bem vinda silenciosamente muito antes da palavra, é o luxo que dispensa o discurso …
Quem não quer, essa benção do silencio?
Continuando os exemplos, caracterizar alguém como “escuro” ou “preto” é incorreto, mas não como “loiro” ou “alto". Isso só faz reafirmar os velhos valores conservativos e preconceitos sociais, que enxergam nos loiros a evocação do primeiro mundo, e, nos “escuros”, de escravidão. Mantendo-se essas evocações, os preconceitos são igualmente mantidos, atrás de uma máscara.
Visto como discriminação, ao invés de simples caracterização, o reconhecimento da diferença é banido. Se reconhecer a diferença é tão ameaçador, enquanto que ignorá-la é tão "nobre", o politicamente correto oferece a solução com a ficção : Somos todos iguais, quase idênticos, aliás…
Em outras palavras: É proibido ver que “ o rei está nu” se ele estiver!